Nos últimos anos, o Brasil testemunhou uma explosão no mercado de apostas, tanto no formato tradicional quanto nas novas plataformas online, como as apostas esportivas.
O fenômeno cresceu de forma tão significativa que, hoje, 7 em cada 10 brasileiros já participaram de algum tipo de jogo de apostas. Mas o que esse comportamento revela sobre o cenário atual e quais são os impactos diretos na vida das pessoas?
Uma pesquisa organizada pelo IDV - Instituto para Desenvolvimento do Varejo e Instituto Locomotiva, revelou dados alarmantes sobre o perfil dos apostadores, os hábitos de consumo, e os efeitos financeiros e emocionais gerados por essa prática.
Vamos explorar os principais insights da pesquisa e refletir sobre os desafios sociais que o crescimento das apostas traz para o Brasil.
A “Epidemia” no Brasil
De acordo com a pesquisa, o número de brasileiros que apostam cresceu exponencialmente nos últimos anos. Atualmente, 52 milhões de brasileiros adultos (cerca de 34% da população) já fizeram apostas esportivas em sites ou aplicativos especializados.
Um dado impressionante é que 25 milhões dessas pessoas começaram a apostar nos primeiros sete meses de 2024.
Essa disseminação de apostas tem sido extremamente rápida, comparada até mesmo com a disseminação da Covid-19 no Brasil, que levou 11 meses para infectar um número próximo de 25 milhões de pessoas, o que ilustra o quão rápido esse comportamento foi absorvido pela população.
Entre aqueles que já fizeram apostas esportivas, 23% começou a apostar nos último mês e 25% nos últimos dois a seis meses.
O perfil dos apostadores está mudando: mais mulheres e pessoas de menor renda estão entrando nesse universo.
Atualmente, 53% dos apostadores são homens e 47% são mulheres, enquanto 79% pertencem às classes CDE e 21% às classes AB.
As faixas etárias também estão bem distribuídas, com 40% dos apostadores entre 18 e 29 anos, 41% entre 30 e 49 anos e 19% com 50 anos ou mais.
E não para por aí! Houve um crescimento substancial no volume de apostas desde 2020 e projeções indicam que o valor movimentado pelas apostas poderá crescer mais de 16% ao ano até 2027, superando outros setores.
O investimento em mídia do setor de apostas já ultrapassou o do setor automotivo e se aproxima dos investimentos do setor financeiro. Em projeções futuras o mercado das bets, deve se consolidar como uma força econômica relevante.
Impacto nas finanças e relações pessoais
Entre as principais motivações para apostar, 53% dos brasileiros o fazem para ganhar dinheiro, 22% buscam diversão, enquanto 10% apostam pela adrenalina envolvida na prática.
Mas a pesquisa mostra que 65% dos apostadores relataram se sentir ansiosos ou nervosos em excesso devido às apostas. Além disso, 30% dos entrevistados concordam que já tiveram prejuízos em suas relações pessoais por conta dessa atividade.
O impacto nas relações pode se manifestar de várias formas, como conflitos familiares, resultantes de problemas financeiros; afastamento de círculos sociais, devido à dedicação excessiva às apostas ou ao constrangimento por perdas financeiras; isolamento social, agravado pelo tempo dedicado ao ato de apostar e à natureza solitária da atividade.
Muitas dessas pessoas também relatam prejuízos emocionais e financeiros, recorrendo até mesmo a empréstimos para cobrir perdas causadas pelas apostas.
66% dos apostadores admitiram que já sentiram que estavam apostando mais do que deviam. Este reconhecimento é mais comum entre mulheres, jovens e de baixa renda, segmentos da população que também relatam maior ansiedade e nervosismo em relação às apostas. Essa realidade afeta principalmente brasileiros de classes D-E.
De acordo com a pesquisa, muitos apostadores afirmam que o dinheiro usado para apostas vem de poupanças ou de outras formas de entretenimento, como gastos em bares, restaurantes ou compra de roupas.
Esse comportamento indica que o entretenimento proporcionado pelas apostas está competindo diretamente com outras formas tradicionais de lazer e consumo.
O alarmante é que 67% dos brasileiros afirmam que conhecem pessoas que estão viciadas em apostas esportivas.
Escape de problemas
Outro dado preocupante revela que 42% dos brasileiros que apostam online concordam que usam essa prática como uma forma de escapar de problemas ou emoções negativas.
Isso sugere que as apostas não estão sendo apenas uma atividade de entretenimento, mas também uma válvula de escape para aqueles que enfrentam desafios emocionais.
Essa questão é especialmente prevalente entre as classes de baixa renda, onde as apostas são vistas como uma solução rápida para problemas financeiros imediatos, mas acabam gerando um ciclo de dívidas e dependência emocional.
A escolha dos sites de apostas
O comportamento de escolha de plataformas de apostas varia de acordo com a renda dos apostadores. Enquanto as classes mais altas, como AB, levam em consideração uma combinação equilibrada de fatores como bônus e cashback, anúncios e patrocínios de times, as classes D-E demonstram uma forte inclinação por escolher seus sites por propagadas e anúncios (72%) e os patrocínios dos seus times (79%).
Essa diferença reflete a maneira como campanhas e patrocínios têm um impacto mais direto no público de baixa renda, que busca uma conexão com o entretenimento popular, enquanto o público de alta renda valoriza mais os incentivos financeiros oferecidos pelas plataformas.
Uma análise crítica
Com o crescimento acelerado das apostas no Brasil, precisamos questionar os impactos dessa prática, tanto no nível pessoal quanto no social.
A maioria dos brasileiros reconhece que a prática está trazendo mais malefícios do que benefícios. Além disso, a influência de influenciadores digitais e times de futebol, que promovem essas plataformas, só intensifica a adesão às apostas, especialmente entre os jovens.
O desafio agora é encontrar maneiras de regulamentar o setor de apostas, garantindo que essa prática seja sustentável e não cause danos irreparáveis às finanças e ao bem-estar da população.
O Brasil está em um momento crítico, e entender o comportamento dos apostadores é o primeiro passo para desenvolver soluções eficazes.
Fonte: Instituto Locomotiva, Pesquisa Apostas no Brasil, 2024 Para baixar a pesquisa completa: Clique Aqui!
Por: Antônio Netto
Gerente de Planejamento, liderando estratégias de marketing para o varejo. Com vasta experiência, também sou Professor, mestrando em Administração, e consultor em marketing digital, focado em inovação e prática.
Gostou desse artigo?
Te convido a contribuir mais sobre o assunto!
Compartilhe sua experiência ou cases interessantes.
Siga meu perfil e acompanhe outros textos!
Comentarios