Um movimento crescente entre os jovens reforça que postar fotos ou conteúdos no feed é visto como algo 'antiquado', desnecessário e 'coisa de velho’; Descubra o porquê
Recentemente, a atriz Mônica Martelli fez uma postagem peculiar em seu Instagram, celebrando o aniversário de 15 anos da sua filha, Julia. O post, cheio de fotos da própria Mônica no evento, trazia um detalhe inusitado: não havia nenhuma foto da aniversariante.
No carrossel postado por ela, em vez de uma tradicional foto da filha, Mônica postou printscreens de conversas com Julia no WhatsApp, onde a mãe pedia autorização para postar uma foto da filha, que "estava linda". A resposta? Um simples, mas contundente: “não”.
Em outra tentativa, a negativa se repetiu, e o post da mãe terminou com um pedido bem-humorado para que os seguidores "finjam que é ela atrás do bolo".
Mas o que está acontecendo com a Geração Z?
A situação revela mais do que uma interação inusitada entre mãe e filha; ela nos leva a refletir sobre uma mudança significativa no comportamento da Geração Z em relação à privacidade e à exposição nas redes sociais.
A recusa de Julia em ser exposta no Instagram de sua mãe é apenas mais um exemplo de como os jovens dessa geração estão repensando a relação com as redes sociais.
Esse grupo, nascido e criado em uma era de superexposição digital, está cada vez mais consciente dos riscos e desconfortos de ter sua imagem permanentemente acessível.
Assim, movimentos como o 'Feed Zero', onde usuários mantêm seus perfis sem nenhuma publicação, estão ganhando força.
Enquanto as gerações anteriores viam as plataformas como um lugar para construir uma identidade pública e compartilhar momentos importantes, os jovens de hoje estão optando por se desconectar da ideia de feed perfeito.
De acordo com um relatório recente da Dazed Studio, que entrevistou mais de 600 jovens entre 18 e 24 anos de diversos países, a Geração Z está começando a adotar uma postura mais crítica em relação às grandes plataformas digitais.
Eles estão mais conscientes de como seus dados são explorados e do impacto que essas redes têm na sua saúde mental e na autoimagem.
Postar algo no próprio perfil passou a carregar um peso: o receio de ser julgado, a comparação constante com influenciadores e até o medo de deixar uma “pegada digital” permanente.
Recentemente, um post do professor Victor Hugo, da rede pública do interior de São Paulo, viralizou ao levantar um debate interessante sobre o comportamento da Geração Z nas redes sociais.
Ele realizou uma pesquisa informal com seus alunos, de 13 a 17 anos, para tentar entender por que muitos jovens optam por não postar no feed do Instagram.
A resposta foi surpreendente: postar fotos ou conteúdos no feed é visto como algo "antiquado”, desnecessário, ou como diriam os jovens, “cringe”.
O que estaria na moda, segundo os alunos, é ser 'low profile' e acham que quem posta frequentemente "é desocupado e brega”.
Para os adolescentes, o feed está diretamente associado a gerações mais velhas, enquanto eles preferem interações mais efêmeras, como stories ou mensagens no direct, onde a exposição é momentânea e temporária.
Mas o que está por trás desse movimento?
Para a Geração Z, a privacidade se tornou um valor muito importante. Mas será que é apenas isso mesmo?
O 'Feed Zero' pode ser visto como uma forma dos jovens se protegerem da pressão social de parecerem sempre impecáveis.
A comparação constante faz com que muitos sintam que não têm “nada bom o suficiente” para postar. Afinal, se você não vai alcançar o nível de perfeição que as redes sociais exigem, por que se expor?
O fenômeno do 'Feed Zero' entre a Geração Z pode parecer uma nova tendência de comportamento digital, mas, na verdade, está enraizado em uma questão muito mais complexa: uma pressão estética e a busca incessante por aceitação social nas redes sociais.
Uma pesquisa conduzida no Ambulatório de Ginecologia da Adolescente do Hospital das Clínicas (HC) revelou que quase sete em cada dez jovens (67%) estão insatisfeitas com o próprio corpo e 37% sentem vergonha de sua aparência física.
As redes sociais, portanto, seriam espaços onde as postagens podem representar ambientes de exposição das fragilidades e de julgamentos.
O que as marcas precisam entender?
Com esse novo perfil mais reservado, empresas precisam se ajustar. As campanhas baseadas em estética perfeita e feeds organizados podem não mais tocar no sentimento dessa geração como antes.
Em vez disso, o foco precisaria estar em interações genuínas e autênticas, que respeitem a privacidade e os valores dos jovens.
A Geração Z quer ver histórias reais, e não apenas perfis perfeitos. Aquelas marcas que conseguirem criar conexões verdadeiras, oferecendo experiências interativas e sem pressão de exposição excessiva, poderão ter mais sucesso em engajar esse público.
Por: Antônio Netto
Gerente de Planejamento, liderando estratégias de marketing para o varejo. Com vasta experiência, também sou Professor, mestrando em Administração, e consultor em marketing digital, focado em inovação e prática.
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