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O mercado bilionário de Conteúdo Adulto on-line: do nicho marginalizado ao 'boom' econômico

  • Foto do escritor: Freitas Netto
    Freitas Netto
  • 25 de out. de 2024
  • 7 min de leitura

Nos últimos anos, o mercado de conteúdo adulto on-line teve um crescimento exponencial, se transformando de um nicho marginalizado em uma indústria que movimenta bilhões de dólares.


Plataformas como OnlyFans, Privacy, JustFor.Fans e outras ganharam popularidade global, proporcionando tanto a criadores de conteúdo quanto a consumidores uma nova forma de interação e monetização.


De acordo com um relatório da Business Research Insights, o mercado global de entretenimento adulto foi avaliado em US$ 54,7 bilhões em 2023, com a expectativa de alcançar US$ 101,6 bilhões até 2032, com uma taxa de crescimento anual de 7,12%.


Esse crescimento acelerado reflete tanto o aumento da demanda por esse tipo de conteúdo quanto o surgimento de novas tecnologias e plataformas que facilitam a criação e venda de conteúdo erótico e adulto.


Plataformas e modelos de receita


Criada em 2016, em Londres, o OnlyFans, é uma das plataformas mais populares para a criação de conteúdo adulto. Curiosamente, ela foi criada para que qualquer pessoa pudesse expor seu trabalho, em qualquer área de atuação, como músicas e videoclipes, com o contexto de oferecer conteúdos exclusivos para seus fãs, que iriam pagar para ter acesso à esses materiais.


Mas, por algum motivo, o OnlyFans acabou sendo abraçado pelos produtores de conteúdo adulto, se tornando uma plataforma altamente nichada neste mercado, se tornando um símbolo de como a economia da influência se expandiu para incluir criadores de conteúdo sexual.


Segundo dados divulgados pela CNN Brasil, o OnlyFans possui cerca de 150 milhões de usuários e mais de 5 milhões de criadores de conteúdo em todo o mundo.


No entanto, o mercado não se limita a uma única plataforma. Outros serviços, como Privacy e ManyVids, também estão ganhando tração, atraindo criadores em busca de alternativas e de novas maneiras de diversificar suas fontes de renda.


O modelo de negócios dessas plataformas é relativamente simples: os criadores publicam conteúdos exclusivos para assinantes pagantes, que podem acessar fotos, vídeos, textos, lives e até mesmo podcasts. Os conteúdos vão desde versões mais sensuais, como os conhecidos “Pack do pezinho”, conteúdos de nudez ou até mesmo de sexo explícito.


Além disso, essas plataformas permitem que os criadores recebam gorjetas e monetizem diretamente seu público, sem intermediários.


O ‘Boom’ na pandemia


A pandemia de Covid-19 teve um impacto profundo em diversos setores, e o mercado de conteúdo adulto online foi um dos mais beneficiados, principalmente por meio da plataforma OnlyFans.


De acordo com uma reportagem do Financial Times, a plataforma viu sua receita crescer expressivamente, com um aumento de 553% entre janeiro e novembro de 2020. Nesse período, os usuários gastaram US$ 2,36 bilhões no site, impulsionados pelas restrições sociais e econômicas trazidas pela pandemia.


Esse crescimento não foi apenas fruto da popularidade do conteúdo adulto, mas também de uma convergência entre o desejo de exposição e a necessidade econômica gerada pela crise pandêmica.


Durante o isolamento social, muitos criadores e usuários, sem acesso ao trabalho formal ou enfrentando a precariedade econômica, viram no OnlyFans e outras plataformas uma alternativa de renda. Ao mesmo tempo, o consumo de entretenimento online aumentou drasticamente, criando uma demanda sem precedentes por conteúdo exclusivo e interativo.


A América Latina no centro da estratégia do OnlyFans


Com o crescimento exponencial do OnlyFans, a América Latina emergiu como uma região estratégica para a expansão da plataforma. Segundo Amrapali Gan, CEO da empresa, a região está ao lado de mercados como Austrália e países europeus no que diz respeito ao potencial de crescimento.


O Brasil, em particular, tem sido um dos focos principais, com criadores locais aproveitando a oportunidade de obter maior visibilidade global.


Segundo Gan, desde seu lançamento, o OnlyFans já pagou mais de US$ 10 bilhões a seus criadores, e se consolidou como um dos principais players da economia da influência adulta.


O modelo baseado em assinaturas, somado à liberdade de expressão oferecida pela plataforma, permite que os criadores publiquem conteúdos que não circulam em outras redes sociais.


No entanto, apesar desse crescimento, a plataforma ainda luta para ser reconhecida por mais do que apenas seu conteúdo adulto. Gan reforça que o OnlyFans oferece espaço para criadores de diversas categorias, incluindo comédia e esportes, embora o nicho associado ao conteúdo sexual persista.


OnlyFans como marketing de celebridades


Celebridades brasileiras têm utilizado suas plataformas de forma estratégica para alavancar seus perfis no OnlyFans, criando uma combinação de marketing digital inteligente com uma oferta de conteúdo exclusivo.


Anitta, uma das maiores estrelas da música brasileira e ícone internacional, trouxe seu carisma e criatividade para o OnlyFans de uma maneira diferente. Usando sua visibilidade global e uma base de fãs engajada, Anitta encontrou na plataforma um espaço para diversificar o tipo de conteúdo que oferece aos seus seguidores. 


Seu perfil inclui desde fotos sensuais e vídeos exclusivos até lançamentos antecipados de projetos musicais, proporcionando aos assinantes acesso a um mix de entretenimento e exclusividade.


Além disso, Anitta gerou um verdadeiro alvoroço na web ao divulgar o momento em que faz uma tatuagem íntima anal, e o vídeo foi publicado diretamente no OnlyFans. Embora o registro tenha vazado nas redes sociais, o impacto da publicação parece ter sido altamente lucrativo para a cantora, especulando um faturamento de R$ 7 milhões na plataforma.


Ao precificar o acesso aos seus conteúdos em torno de US$ 5 (aproximadamente R$ 25), Anitta conseguiu equilibrar acessibilidade e a sensação de privilégio para seus fãs.


Já a ex-BBB e jogadora de vôlei Key Alves se destacou pela forma como lançou seu perfil no OnlyFans, utilizando uma estratégia de marketing pouco convencional, porém eficaz. Durante uma entrevista, Key mencionou que seu salário na Seleção Brasileira de Vôlei era de apenas R$ 1.500.


Essa declaração gerou repercussão, criando uma narrativa de que a atleta, apesar de sua visibilidade e talento, precisava buscar outras fontes de renda. Essa revelação atraiu a atenção do público e das mídias, impulsionando seu perfil no OnlyFans.


Posteriormente, Key Alves revelou que sua fala sobre o salário foi uma tática de marketing, uma jogada que, apesar de polêmica, conseguiu trazer maior atenção ao seu conteúdo na plataforma.


Ela relatou que publica no OnlyFans conteúdos sensuais e que grande parte de seus assinantes solicita conteúdos específicos, como fotos dos pés, um nicho que tem um apelo considerável no mundo do conteúdo adulto.


Impacto social e financeiro nas classes de baixa renda


Um dos fenômenos mais marcantes no crescimento do mercado de conteúdo adulto online é a participação crescente de jovens de periferias e classes de baixa renda, conforme reportagem destacada pela Agência Mural.


Para muitas pessoas em situações de vulnerabilidade, a criação e venda de conteúdo adulto se tornaram uma alternativa viável para complementar a renda, diante de poucas opções no mercado formal de trabalho.


No entanto, essa atividade vem carregada de complexidades e riscos, especialmente para as mulheres que representam a maior parte dos criadores de conteúdo adulto.


As criadoras de conteúdo das periferias, além de enfrentarem o preconceito social, são constantemente vítimas de assédio e invasão de privacidade. O mercado de conteúdo adulto online, muitas vezes idealizado como uma alternativa fácil e acessível de ganhar dinheiro, traz uma série de armadilhas psicológicas e emocionais.


A ilusão de ganhar dinheiro fácil


Embora existam algumas histórias de sucesso, com produtores de conteúdo adulto que faturam mais de R$ 500 mil por ano, e possam sugerir que esse mercado seja uma mina de ouro, a realidade para a maioria dos criadores é bem diferente.


Muitos influenciadores de sucesso, já tinha uma base de seguidores em outras redes, como o Twitter (ou o X), antes de ingressar nesse tipo de plataforma, o que facilitou sua monetização.


Para a maioria, no entanto, os desafios são inúmeros. Criadores relatam que, para manter um fluxo constante de assinantes e ganhos, é necessário um esforço contínuo de marketing, produção de conteúdo de alta qualidade e, muitas vezes, um investimento significativo em estética e equipamentos.


Uma pesquisa da Universidade de São Paulo revela que muitos criadores de conteúdo adulto enfrentam dificuldades financeiras, com alguns ganhando menos de R$ 300 por mês. Isso reflete o caráter competitivo do mercado, onde a visibilidade e a popularidade são essenciais para a monetização.


Futuro da indústria e regulação


Nos Estados Unidos, a aprovação das leis SESTA (Stop Enabling Sex Traffickers Act) e FOSTA (Allow States and Victims to Fight Online Sex Trafficking Act), em 2018, trouxe mudanças significativas para o mercado digital de conteúdo adulto e afetou diretamente os criadores em várias partes do mundo.


Embora as leis tenham sido criadas com o intuito de combater o tráfico sexual, seu efeito colateral foi uma regulamentação mais rigorosa de plataformas que hospedam qualquer tipo de conteúdo sexual.


Essas leis ampliaram a responsabilidade legal das plataformas digitais, tornando-as passíveis de processos judiciais caso não consigam monitorar e remover conteúdo relacionado à exploração sexual.


Essa mudança legal resultou no fechamento de várias plataformas e na restrição de conteúdos, mesmo quando esses não tinham relação com o tráfico sexual. Plataformas de mídia social como Instagram e Twitter, que muitas vezes eram utilizadas para promover conteúdo de criadores adultos, passaram a adotar políticas mais rígidas, removendo perfis e postagens ligadas a qualquer forma de trabalho sexual.


As plataformas que continuaram operando no mercado de conteúdo adulto, como o OnlyFans, também foram forçadas a revisar suas políticas. Isso resultou em uma série de obstáculos adicionais para os criadores, que agora enfrentam maior dificuldade em garantir que seu conteúdo permaneça disponível e monetizável.


A dependência dessas plataformas se tornou uma faca de dois gumes: enquanto elas oferecem um canal direto para monetizar o conteúdo, sua instabilidade e a falta de uma regulamentação específica tornam o trabalho digital adulto uma ocupação extremamente arriscada.


Essas situações ilustram uma das grandes tensões do mercado de conteúdo adulto online: o equilíbrio delicado entre a tentativa de proteger os usuários da exploração e a restrição das liberdades e da autonomia de criadores legítimos.


À medida que a indústria de conteúdo adulto online cresce, a discussão sobre a regulamentação e a segurança se torna cada vez mais urgente. Não se trata apenas de proteger os usuários, mas também os próprios criadores de conteúdo, que muitas vezes se encontram expostos a riscos significativos, como assédio, invasão de privacidade e exploração.


 

Por: Antônio Netto

Gerente de Planejamento, liderando estratégias de marketing para o varejo. Com vasta experiência, também sou Professor, mestrando em Administração, e consultor em marketing digital, focado em inovação e prática.


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